Este blog foi produzido com as constribuições dos alunos das turmas de 1ª serie do prof Aurelio Fernandes.

A Revolta Camponesa de Thomas Munzer e Martinho Lutero

“Assim como, nas relações sociais e políticas gerais daquela época, os resultados de qualquer modificação tinham de redundar necessariamente em proveito dos príncipes e aumentar o poder deles, assim também a Reforma burguesa, quanto mais ela se separava dos elementos plebeus e camponeses, tanto mais tinha de cair sob o controle dos príncipes reformados. O próprio Lutero tornou-se cada vez mais o servo deles, e o povo sabia muito bem o que fazia ao dizer que ele tinha se transformado num lacaio dos príncipes e ao persegui-lo a pedradas em Orlamunde.

Ao estourar a guerra camponesa, e isso em regiões onde príncipes e nobres eram na maioria católicos, Lutero procurou assumir uma atitude conciliadora. Atacou decididamente os governos. Eles é que seriam culpados do levante por suas opressões; não os camponeses estariam se levantando contra eles, mas Deus mesmo. O levante também seria ímpio e contrário ao Evangelho, era dito do outro lado. Finalmente, ele aconselhou a ambos os partidos que fizessem concessões e se reconciliassem amigavelmente.

Mas o levante, apesar desses conselhos bem-intencionados e reconciliadores, estendeu-se rapidamente, atingiu até regiões protestantes dominandas por príncipes, senhores e cidades luteranos e cresceu rapidamente para além da reforma “razoável”. Nas cercanias mais próximas de Lutero, Turíngia, a fração mais radical dos insurretos, sob o comando de Munzer, estabeleceu o seu quartel general. Mais alguns êxitos e toda a Alemanha estaria em chamas, Lutero estaria cercado, talvez executado como traidor, e a Reforma Burguesa seria arrastada embora pela revolução camponesa-plebéia. Não havia mais o que pensar. Ante a revolução, todas as antigas inimizades foram esquecidas; em comparação com as hordas de camponeses, os servidores de Sodoma romana eram inocentes cordeiros, mansos filhos de Deus; e burgueses e príncipes, nobre e padrecas, Lutero e o Papa se uniram “contra as hordas assassinas de camponeses assaltantes”.

“É preciso despedaçá-los, degolá-los e apunhalálos, em segredo e em público, quem possa fazê-lo, como se tem de matar um cachorro louco!”, gritava Lutero. “Por isso, prezados senhores, quem aí o possa, salve, apunhale, bata, enforque e, se morrer por isso, morte mais feliz jamais há de poder alcançar.”

Nada de ter falsa piedade com os camponeses. Confundem-se a si mesmos com os insurretos aqueles que se apiedam daqueles de quem Deus mesmo não se apieda, mas que Ele quer ver punidos e perdidos. Depois, os próprios camponeses hão de aprender a agradecer a Deus se têm de entregar uma vaca para poderm usufruir a outra paz; e os príncipes hão de conhecer, através da rebelião, qual é o espírito do populacho, que só pode ser governando pela violência”

Trecho de “Os grandes agrupamentos de oposição e suas ideologias – Lutero e Munzer”, In Marx e Engels; seleção de textos, São Paulo, Ed. Ática, 1983, p.244.